Adoro esta musica..





domingo, 28 de fevereiro de 2010



Texto escrito por mim ,para a abertura do work-shop Verão,Ilha de Itacurussá.fevereiro de 2001.
Facilitadoras :Lucia Fish e Carla Machado.


Era uma vez...um bauzinho de madeira.
Havia sido comprado ,há muito tempo atrás por um jovem casal,para decorar a sala do apartamento,que iriam morar logo após o casamento.
Inicialmente era o ai - jesus¨da casa, enfeitava a sala do apartamento pequenino e guardava os discos de vinil dos dois.
E a vida do bauzinho foi acompanhando a vida do casal.Vieram as crianças, as mudanças e os apartamentos pelos quais ele passou ,eram maiores, e a sua importância e utilidade foram substituidos por uma mesa de som de aço escovado.
Porem sempre sobrava um lugar pra ele,na varanda.Tomou muita bolada,já que os meninos insistiam de faze-lo,aberto, de cesta para um jogo que só eles sabiam as regras.A menina insistia em transforma-lo em sua casa de bonecas.
Várias vezes vingou-se do mau-uso,fechando a tampa com estrondo.A mãe sempre avisava:Üm dia desses, um de vcs vai ficar com o dedo preso,mas eles nem ouviam,como convinha a crianças pequenas.Como não podia deixar de ser, aconteceu..Choro,gritaria,unha roxa e o bauzinho que não tinha nada a ver com isto,foi parar no quarto do casal aos pés da cama.
E lá ficou, emburrado, meio inútil,deslocado,guardando em seu interior,tudo aquilo que a gente guarda,para quando precisar e quando precisa não acha..
O tempo passou, as crianças cresceram,vieram as crianças das crianças, o casal não existia mais e o bauzinho ficou só com a sua dona.
O apartamento diminuiu bastante.
Um dia a dona do baú começou a ficar meio estranha para a ótica de um baú.
Ele a viu pensativa,escrevendo muito,acendendo incensos,ouvindo mantras...
De repente ,ela olhou para ele e achou que o seu interior servia para guardar coisas muito importantes..
Até que enfim, pensou o baú.Ela cantarolava
no dia em que tirou os cacarecos de seu interior e sem olhar muito,jogou tudo fora.
_Ah,estou me sentindo mais leve, e que perfume maravilhoso tem essa cera que ela me limpou _ pensou o baú.
E seu interior cuidado e cheiroso passou a guardar as primeiras mandalas, os cadernos de coisas escritas,vividas e sonhadas.
A principal função do bauzinho passou a ser guardião de olhos curiosos e mãozinhas pequenas.Ficou orgulhoso e com muito mais personalidade.
Seu interior crescia em riquezas como o de sua dona.Isto era um segredo só dos dois.
De repente ,seu tampo passou a ter enfeites lindos. O primeiro foi um porta incenso trazido de São Pedro da Serra.
Depois um quartzo rosa dado por uma fada,cristal esse que todas as vezes que ela tinha uma dificuldade apertava nas mãos.
Veio um potinho pintado no Açu,penas que avisam o caminho certo,uma ânfora guardadora de lágrimas.E era ali em frente a ele,que todos os dias de manhã,ela sentava e rezava.Primeiro rezas da época do colégio de freiras,depois longas conversas com o Universo.
Pedidos e agradecimentos se misturavam com lágrimas e sorrisos.
E foi assim,acendendo um incenso, em uma linda manhã de sol, que os dois juntos perceberam que ali estava um altar.
Não um altar cheio de dourados e santos,
mas um lugar onde tudo o que era importante para os dois estava.Só dela chegar perto, o bauzinho sabia se a sua dona estava alegre ou triste, mas ela sempre vinha.As músicas eram alegres ou tristes,mas sempre havia música.
Uma linda mandala, emoldurada e colocada na parede em cima dele lembra todos os dias, que ela é muito amada.
As vezes ela se ausenta e objetos saem e novos chegam, e nesta dança o bauzinho fica muito mais bonito. Afinal ele sente que não é só um altar.Ele é o depositário do sagrado de sua dona,um espaço sagrado de suas lutas,alegrias tristezas e conversas com Deus..
Uma criança de 5 anos aprendeu ali a rezar,pedir música de índio,e de mãos dadas com a prima de 7 anos,pedirem coisas que só as crianças pedem a Deus.
As vezes a vó é chamada,mas eles não gostam muito,pois dizem que quando ela reza com eles ,ela chora.Eles já depositaram os pequenos objetos da vidinha deles.O pequenino de 2 anos nunca mexeu em nada do altar.Respeita e olha as novidades com atenção..
Há semanas atrás o de 5 anos enfrentou uma tristeza muito grande para uma criança.Assim que o pai chegou,pegou-o pela mão e junto com a avó pediu para rezarem.Foi um dos moments mais bonitos do bauzinho e de sua dona.Eram tres gerações unidas pela fé simples,pelo amor..
Deus certamente escuta esta gente.Ele está ali,naquele altar,naquela casa.E foi ali,que hoje de manhã sentei,eu Anna Maria,em frente ao meu bauzinho que virou altar.Olhei minha mandala,vi o retrato de alguns de vocês,agarrei meu quartzo roza e agradeci o recomeço de mais um fim de semana de amor.Meu coração bateu forte,muito forte e agradeci o privilégio de ter aprendido tanto com a simplificação do sagrado,sem perder a intensidade.
Agradeci tambem de vir aqui aprender mais com todos vcs,pois a fonte é inesgotável.Trouxe hoje o primeiro porta incenso do meu altarzinho,para este altar maior.E é em frente ao altar maior que convido a vcs a rezar com o coração lembrando que Deus está aqui ,sem fórmulas, sem grandes imagens,mas certamente dentro de cada um de nós.
Posted by Anna Maria on 16:38



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